Rio Amazonas, fragmentos da foz.

Onde a Amazônia encontra o mar,

Pequenas casas de madeira ou rebanhos de búfalos era tudo o que vislumbrávamos em uma ou outra margem no delta do impressionante Amazonas. Nossa meta inicial era a pororoca na foz. Ainda estávamos longe.

Após oito horas de viagem não encontramos sequer uma embarcação. Reféns do rio, dependíamos das marés e dos possíveis acessos por terra em áreas alagadas. Queríamos falar com as pessoas do lugar, mas, comandados pelas marés, como todos que navegam a região, não teríamos como alcançar as margens tão distantes em tempo hábil para seguir a viagem. O Rio não nos esperaria.

O pequeno barco avançava pela calha do rio, onde paisagens exuberantes se descortinavam. A luz, filtrada por céu e terra, materializava as cores da região, com seus matizes fantásticos. As chuvas e o calor intenso se misturavam, onde ondas de mormaço geravam também um efeito ótico, ampliando e distorcendo as distantes pontas de terra, iludindo quem não conhece esta combinação.

Avistamos as últimas nesgas de terra nas ilhas Caviana. Campos naturais, onde se viam manadas de búfalos, vão aos poucos cedendo sua firmeza, ao se misturarem com as águas, e se transformam em lama. Um marrom denso, cheio de brilho e vida do Amazonas, traz os sedimentos despejados ao longo do percurso por seus afluentes tributários e os despeja no mar, contribuuindo para criação de um dos biomas mais importantes do planeta, seus manguezais.

Fotos Paulo Santos/Reuters

Este ensaio é parte de mais uma etapa do projeto Onde a Amazônia Encontra o Mar.