domingo, 28 de setembro de 2014

Pata Rabuda, o bar

"Os sopros, os ventos...
 Pneumas estão presentes nas divindades que explicam a vida.
 Tenha bons ventos e boas histórias."
Antônio Corisco

- Eu explico suas teorias e de todas as outras ciências – bradou, com orgulho, o filósofo.
- Nasci muito antes, com a escrita. Do contrário não haveria quem fizesse de suas ideias algo a ser estudado e conhecido – afirmou o historiador.
O filósofo e o historiador, religiosamente às sextas-feiras, encontravam-se em um bar para discutir os avanços dos estudos das respectivas convicções. O debate, é claro, era composto por afirmações sobre afirmações. Um tentando explicar o outro, e o outro tentando comprovar o um.
O filósofo acusava o historiador de ser uma mera invenção, uma falácia nascida do discurso e da escrita. Afirmava que a humanidade viveria muito melhor sem a história, sem o ‘’pesar de consciência’’ que ela traz.
- Imagine. Muito melhor seria viver sem ter que perder tempo comprovando tudo e todos. O passado não muda, a mente e as ideologias sim.
O historiador retrucava. Diz que a imutabilidade do passado é o que faz todos estarmos aqui, hoje, inclusive o próprio filósofo. O ‘’pesar de consciência’’ é somente a certeza do balanço feito das ações passadas, que são capazes de explicar o presente.
- A minha ‘’falácia’’ inventou Platão. A preocupação em preservar fez você poder entrar em contato com todos os escritos filosóficos disponíveis hoje. Para completar, não sobrevivo da escrita, e sim da produção do ser humano em todos os sentidos.
Muito era dito naquela mesa ao entardecer de sexta-feira. Em alguns minutos concordavam: seus estudos são capazes de destruir o mundo, bastam que queiram. Tão quanto qualquer outro poderio bélico.
- Pense comigo, filósofo. E se eu resolvesse dizer que toda a história da humanidade está errada? Índios não são índios ou europeus, na verdade, são africanos. Eu destruiria a humanidade.
- E se eu, historiador, dissesse que a ciência nunca existiu. Que a medicina ou a engenharia estão erradas. Curam-se pessoas e fabricam  as coisas do avesso. A mente de cada um explodiria
Os momentos de sorrisos eram poucos, logo a discordância voltava. Um assumindo a paternidade do outro.
- Existe a filosofia da história. Logo, minha disciplina rege o andamento da sua.
- Verdade, mas esqueceu que existe a história da filosofia? A minha disciplina foi responsável pela sobrevivência da sua ao longo do tempo.
Já se passaram horas desde o início da discussão. O único que detinha o poder de encerrar a conversa era o garçom Xexéu. Já era tarde quando este resolveu trocar o canal da televisão do bar, modificando o intelecto dos pensadores e suas pneumas, provocando a seguinte pergunta entre eles:
- Mas afinal, pra que time torces mesmo?

O autor é Bento Guajará é filho de Labareda, do bando de Corisco

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Neruda de memórias

Em 23 de setembro de 1973, muitos deram adeus a Pablo Neruda. Esse chileno que enveredou pela política pública, pelos ideais comunistas, pela poesia, que talvez tenha sido o banquete em que mais desfrutamos de sua gentileza.

Aproveito a data dos 41 anos de morte de Neruda, que sempre me faz lembrar do filme O Carteiro e o Poeta, para deixar um de seus escritos que nos remetem a um cenário que assolou quase concomitantemente diversos países da América Latina: a ditadura militar. Uma das diferenças é que algumas dessas nações já avançaram no processo de resgate de informações sobre os direitos violados. Já o Brasil, engatinha e vacila bastante. O artigo de Eric Nepomuceno, por exemplo, sob o título "O pacto do silêncio ainda vigora no Brasil", publicado em periódico argentino, foi um alento pra mim, porque reverbera o que não sai da cabeça, mas também foi um tapa na cara envergonhada de tanta dor.

Abro aqui um parêntese para publicar um parágrafo que traduzi por conta própria:

"Alguém está equivocado. Aliás, alguém não cumpre uma regra legal e institucional. Ou o comandante do Exército desobedece, de maneira clara, seu comandante supremo – a presidenta da República – ou a comandante não comanda nada" - diz ele ao se referir ao descaso do militar à convocação da Comissão Nacional da Verdade e que passou como se nada fora.

Neruda, meu caro, eu também peço, peço punição.

LOS ENEMIGOS

Ellos aquí trajeron los fusiles repletos
de pólvora, ellos mandaron el acerbo
          exterminio,
ellos aquí encontraron un pueblo que cantaba,
un pueblo por deber y por amor reunido,
y la delgada niña cayó con su bandera,
y el joven sonriente rodó a su lado herido,
y el estupor del pueblo vio caer a los muertos
con furia y con dolor.
Entonces, en el sitio
donde cayeron los asesinados,
bajaron las banderas a empaparse de sangre
para alzarse de nuevo frente a los asesinos.

Por esos muertos, nuestros muertos,
pido castigo.

Para los que de sangre salpicaron la patria,
pido castigo.

Para el verdugo que mandó esta muerte,
pido castigo.

Para el traidor que ascendió sobre el crimen,
pido castigo.

Para el que dio la orden de agonía,
pido castigo.

Para los que defendieron este crimen,
pido castigo.

       No quiero que me den la mano
       empapada con nuestra sangre.
       Pido castigo.
       No los quiero de embajadores,
       tampoco en su casa tranquilos,
       los quiero ver aquí juzgados
       en esta plaza, en este sitio.

       Quiero castigo.

***
P.S: Acabei lembrando depois de postar que o documentário "De Naftalí a Pablo", exibido pelo canal Encuentro, do Ministério da Educação, da Argentina, é muito bom. Quem tiver a oportunidade, pode grudar os olhos no filme.

domingo, 21 de setembro de 2014

O Palhaço, o que é? É ladrão de mulher!

- O palhaço, o que é? É ladrão de mulher!
Passava um palhaço com um megafone conclamando a cidade para uma assistirem à apresentação em praça pública, naquela noite que se aproximava. Era o primeiro circo do lugar, um interior cravado no seio da Amazônia, por nome Baturité. Eram artistas com aspecto ciganos que pulavam e ululavam ao ritmo da zabumba e de cornetas. Muito barulho. Um artista chamava atenção de Leide, a mais bela cabocla da cidade, apoiada na janela de sua casa, de Angelim-pedra, fitando o movimento. Ele, uma espécie de Jack Sparrow dos dias atuais, sentava-se na carroça-propaganda, fazendo pose de galã holiudiano em plena floresta tropical.
A cruzada de olhares deixou-a sem graça e desconfortável, pois a figura era estranha, Tinha brincos grosseiros, barba por fazer, íris verdes e um olhar profundo. Ele fez uma graça maliciosa para atraí-la para o show de logo mais, na única praça da cidade.
Repetiu a malícia logo em seguida, após o palhaço ter gritado pela segunda vez: - O palhaço, o que é? É ladrão de mulher! 
A jovem cabocla sentiu algo estranho: as tetas enrijeceram, calor no corpo a incendiava, tinha sensação de nudez abissal e uma vontade enlouquecida de seguir atrás daquela trupe e ficar olhando para aqueles olhos. Leide se sentia magnetizada, apesar de já saber da história do boto que atraia mulheres virgens para o fundo do rio, deixando-as grávidas, cujo filho jamais conheceria o pai. Sentia ojeriza desta lenda, ao mesmo tempo em que se sentia atraída por aquele homem.
Show lotado. Umas 250 almas. Quase toda a cidade boquiaberta com a pirotecnia e as graças do Palhaço Rai-o-Mundo. Leide, sentada na cadeira que trouxera de casa, assistiu ao show na primeira fila e não tirava o olho do Pirata. Entre a coxia e o público, pulsava em sua veia o amor verdadeiro. Ele, por sua vez pouco retribuía o olhar, até que o artista, na vez de seu número, a tirou para dançar no picadeiro e deixou em suas mãos um lenço com sua inicial: B.[Momentos de aplausos]. 
No outro dia, cedo-cedo, Leide foi visitar a praça, e a encontrou totalmente vazia. Nem cadeiras; nenhuma sujeira; não havia uma viva alma. A trupe vazou de madrugada. Correu para o trapiche e viu uma embarcação no horizonte sem destino. A tristeza tomou de conta da alma, e o corpo a acompanhou de volta até a cozinha de sua casa. Próximo à panela de maniçoba, que estava fervendo há menos de dois dias - por ser festejo de Nossa Senhora de Nazaré - apanhou um copo e mergulhou na panela para retirar duas medidas daquele produto que tinha o gosto de chumbo do seu sentimento. Bebeu de uma solapada só.

Leide se foi...

Labareda, do bando de Corisco. História adaptada de "O Sertão de São Marcos", de Marcos Quinan (Letraviva). 

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Quase (?) suicídio



Foto: Scylla Lage Neto

A data é incerta e desprovida de qualquer interesse.
O dia, afinal, é hoje, morada de nossa eterna prisão.
O abismo entre a perna e o lago, é real.
Na terra estranha, o vento gelado e a mão que segura a mão são as únicas testemunhas.
Quatro olhos em pânico miram o balançar da perna sobre o vazio.
Dois cérebros processam que nada acontece.
O corpo não cai.
Quatro pés correm.
O lago segue imaculado.
Ou não?!...

                                                                                                                                                                  Foto: Scylla Lage Neto

domingo, 14 de setembro de 2014

Nossas urgências não cabem nas urnas

Ideias que poderiam ser obvias terminam por ser surpreendentes conforme a conjuntura. Viver a despeito das exigências de determinados mercados, por exemplo, pode ser uma atitude quase revolucionária. Quando a Espanha passou a contabilizar uma média de 600 feiras de “escambo” em 2012, uma prática que não ultrapassava algumas dezenas em 2007, foi um sinal de que a população poderia, sim, caminhar por outros rumos, ainda que tidos como primitivos – definir a prática como escambo é bem simbólico. A crise econômica parece que falou mais alto...

Lembrei disto quando me deparei com a iniciativa do cabeleireiro Cássius Martins. Não me aprofundei nos detalhes do processo, mas como freqüento o salão dele em Belém, ainda que nos meus raros momentos de desejo de embelezamento, e como acompanho o trabalho dele pelas redes sociais, soube que ele está engajadíssimo numa campanha de doação de cabelos para uma organização não-governamental que elabora perucas para pessoas que sofrem o dramático escalpelamento na Amazônia paraense. Como não nos ocorreu essa ideia antes? E outros salões, será que estão ligados nessa “linha de produção” aparentemente tão simples? Imagine a quantidade de cabelo que não se joga fora todos os dias em um salão de beleza? Minha filha resolveu deixar o cabelo ficar bem comprido. É muito comum aqui em Buenos Aires entre as crianças e acredito que ela aderiu à preferência depois de viver comigo aqui por dois anos. Já comecei a dizer pra ela que, quando tiver vontade de fazer um corte bem lindo no cabelo, que me avise, porque vamos fazer parte da lista de doadoras!

Mas não fico por aqui, não. Essa semana, vi uma amiga, a Bruna Guerreiro, divulgar uma campanha feita por fotógrafos de casamentos que, em Belo Horizonte, passaram a divulgar o trabalho de coleta das flores decorativas usadas no festejo para doarem a casas de idosos. Quanta ternura nesse gesto! Fiquei emocionada, devo admitir. Tratei de avisar à minha amiga mineira Élida Ramirez, porque eu não podia deixar de colaborar de alguma maneira com a iniciativa. E, vejam bem, deixo claro que a sensibilidade da Bruna para difundir tal proposta não deve passar por perto de um sentimento de fé cristã. Ela sempre deixou claro que é atéia. Isso, pra mim, torna essa rede de apoios ainda mais bela, sabem? Me faz crer que não dependemos pura e simplesmente de uma doutrina divina para apostar numa sociedade melhor, sem pieguismos ou esmolas, que tantas vezes humilham mais que verdadeiramente fazem alguém feliz.

Aqui em Buenos Aires há uma iniciativa que encontrou certa adesão, o chamado “Café Pendiente”. Pequenos bares e cafés, que a cidade tem aos montes, oferecem a oportunidade ao cliente de deixar um café pago para que seja dado a algum indigente que chegue a qualquer momento para pedir algo que lhe esquente o estômago. Tem seu valor. É uma parceria feita entre desconhecidos e um paliativo bem-vindo.

Que se multipliquem as iniciativas por um novo mundo! Aludindo à campanha de colegas durante este ano de eleições no Brasil, digo que, sim: nossas urgências não cabem nas urnas.

sábado, 13 de setembro de 2014

González Rivas na Amazônia: filho da Galícia, cirurgião do mundo

Artigo originalmente publicado no jornal "Diário do Pará" de 7 de setembro de 2014

Quem caminhava pelos largos corredores do vistoso HANGAR CENTRO DE CONVENÇÕES E FEIRAS DA AMAZÔNIA,durante o XVII Congresso Médico Amazônico (CMA, 14 a 17 de agosto), deparou-se com alguns dos mais célebres cirurgiões torácicos do Brasil. Dentro do grandioso CMA ocorreu o CONNECT BELÉM (Congresso Norte-Nordeste e Centro-Oeste de Cirurgia Torácica) organizado arduamente por cirurgiões locais e contou com a presença de cerca de 50 especialistas brasileiros que perfilavam seus conhecimentos numa área da medicina que a cada dia ganha mais apelo social e tecnológico. O portfólio do congresso foi a contemporaneidade do tratamento das doenças torácicas, incluindo enfisema, câncer, transplante de pulmão e outros temas fulgurantes.
Nascida a fórceps– por necessidade de tratar tuberculose -, a Cirurgia Torácica de hoje envereda por um caminho de alta tecnologia e refinada técnica, com objetivo de diminuir a dor pós-operatória e seus efeitos deletérios.  Para este fim, dois convidados internacionais enriqueceram o evento: Paula Ugalde (Canadá) e Diego González Rivas (Espanha).
A clássica exposição de temas atualizados ocorreu no centro de convenções, porém o teor mais ensandecido estava nas operações ao vivo transmitida da sala de operações para um auditório de 100 lugares, com intensa interatividade. Os pacientes foram selecionados por nós dentro de rigor clínico. E tudo fluiu bem, apesar da complexidade dos casos. Mais que isso, González Rivas (Universidade La Corunha, Espanha), cirurgião de notável destreza, conseguiu realizar três operações sem utilizar entubação em dois casos. As operações foram comentadas por Rivas, em rede social: Cirugia en directo single port en paciente sin intubar desde el Hospital Porto Dias de Belém. Tengo que felicitar al anestesista por el excelente manejo anestésico.
Rivas realizou procedimentos por vídeo (conhecidos popularmente como cirurgia a laser) por abertura única de 3cm, entre as costelas, por onde consegue passar todos os instrumentos e manipular com toda segurança e habilidade as estruturas pulmonares através de intrumental específico, câmera e monitor de vídeo em alta definição. Conhecida como Cirurgia Minimamente Invasiva o resultado é agressão orgânica menor, desjejum precoce e sem necessidade de UTI, além de pouca dor e alta hospitalar precoce. A bem comparar, o normal é realizar o procedimento com duas ou três incisões a mais, entubar o paciente, encaminhar ao CTI e alta somente após 72 horas. Quando não, por acesso amplo de cirurgia aberta (toracotomia), com agressão orgânica bem maior e dor lancinante.
O lampejo de Rivas, denominado de “acesso uniportal sem entubar”(Single port VATS surgery), presenciado por nós, é perfeitamente exequível, desde que se tenha treinamento em minimamente invasiva. Ou seja, é um caminho mais apurado de realizar a mesma operação por vídeo.
Divulgar e ensinar o método in locu é objetivo de Rivas, que costuma abandonar sua Galícia e sair mundo afora com esta missão ímpar e audaz. O mundo já começa a reverenciar a idéia e aceitá-la como caminho novo nas veredas do progresso. Ao conversar com Rivas e tentando entender seu olhar para este cenário, deixei no seu alforje de andarilho uma frase de Thiago de Mello, poeta amazônico, para que seja reverenciada como sinônimo do que vimos em Belém, e mui bem representa esse trejeito simples de inovar: “Não, não tenho caminho novo, o que tenho de novo é o jeito de caminhar".
Por conta de sua jovialidade –aniversariou em Belém -, Rivas não para. Antes de pousar no solo paraense esteve na Colômbia, e depois de Belém seguiu para Rio de Janeiro e São Paulo para operar outros casos. Ainda este ano visita China, Canadá e Grã-Bretanha para difundir o novo.
Felizes fomos nós que tivemos a oportunidade de aprender, em nossas aragens, com o próprio criador.Foi batismo com a água benta da ciência.
Roger Normando
Prof. Cirurgia Torácica – UFPA e Presidente da Sociedade Norte-Nordeste e Centro-Oeste de Cirurgia Torácica

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Aos teus pés



Os teus pés 

Quando não posso contemplar teu rosto,
contemplo os teus pés.

Teus pés de osso arqueado,
teus pequenos pés duros.

Eu sei que te sustentam
e que teu doce peso
sobre eles se ergue.

Tua cintura e teus seios,
a duplicada púrpura
dos teus mamilos,
a caixa dos teus olhos
que há pouco levantaram vôo,
a larga boca de fruta,
tua rubra cabeleira,
pequena torre minha.

Mas se amo os teus pés
é só porque andaram
sobre a terra e sobre
o vento e sobre a água,
até me encontrarem.

(Pablo Neruda)

sábado, 6 de setembro de 2014

Cesta do enfraseamento: a volta de Labareda

Para João Lusco-fusco, viçoso pela reza da palavra

Se João Lusco-Fusco anda inquerindo, então Labareda volta zunindo tão logo setembro reluz em cérebro desidratado de tantos corredores e cercanias de uma cidade polvorosa visitada por tantos benfeitores, professores da paixão no peito sob o risco do equador e as delícias do milagre da multiplicação dos peixes. 

Não se espante, João, se eu, Labareda, do bando de Corisco (braço direito de Lampião, tentando sobreviver no cangaço das palavras atravessadas), escambotear aqui ou levar um tombo ali e me ferir com certos verbos do presente e do pretérito. É por conta da ciência, cuja percepção poética fica minguada, feito Cantareira e Cariri, que dá escasseamento na moleira e fragilidade osteoporótica nos fêmures que
põe Labareda em risco de trincar e cair.

Se queda ocorrer, de fato, não ajunte os ossos, não, João. Basta remediar o versista com carimbó. Esse tira qualquer um da paraplegia, tiriça, ziguezeira e astenia. E fará o homem saracotear em sorriso e simpatia.

Uma vez findada a missa-missão, então sigamos feito processão de velas no rumo do milagre da ceia: hóstia, vinho, pão (peixe, açaí, camarão).

Não sei o tamanho da exaustão de labareda, só sei que saí varando Marajó e rios: Amazonas, Guajará, Guamá. E, em braçadas e madrugadas adentro, tentei discernir a margem que me desafiava, insinuando-me que da vida pouco sei, pouco vi, mas que me situa me dá um norte. Por isso preciso insistir um pouco mais.

Se achegue, Labareda de mim, e traga reza e palavra.

Labareda, do bando de Corisco, braço direito de Lampião, tentando sobreviver no cangaço das palavras atravessadas.