sexta-feira, 22 de maio de 2015

Falta uma luz no Tribunal de Justiça


Manifestante levanta cartaz do Tribunal ao Obelisco. Foto: Erika Morhy

Nada impediu. Nem o ato da presidente Cristina Kirchner, nem o jogo River x Cruzeiro. O escracho contra juízes que aliviaram condenação a um violador de criança de seis anos por considerá-la gay se manteve firme desde as portas do Tribunal de Justiça, em Buenos Aires, até o turístico Obelisco.

Os argumentos tórridos de Horácio Piombo promoveram uma avalanche de críticas de diferentes setores da sociedade e por todos os meios de comunicação se viam ataques e contra-ataques. Pois sim, como se ainda houvesse argumento para uma decisão deste calibre.

O grupo era pequeno às 19h e se ampliou um pouco mais até às 20h, quando deslanchamos a marcha, ainda que no grupo de facebook criado para organizar a ação tivesse quase duas mil pessoas confirmando presença.


Concentração na frente do suntuoso prédio do Tribunal de Justiça. Foto: Erika Morhy

Pelo que cheguei a entender sobre escracho, ele ganhou forma e força com o fim da ditadura argentina e se exigia o julgamento de militares e civis cúmplices do sistema. A ideia, encampada principalmente por jovens, era reunir os que estavam dispostos a fazer barulho numa caminhada até a casa dos ditadores e dar visibilidade à cara dos impunes. Pregavam cartazes com o rosto do alvo e distribuíam volantes na vizinhança e praças. Ou seja, não era necessário muita gente no escracho, porque a proposta era dar visibilidade aos envolvidos na ditadura, que ainda andavam incólumes mesmo depois do início da democracia.

A marcha foi um pouco de escracho e deverá ganhar mais força com as próximas agendas. Digo "um pouco", porque os juízes não moram na capital, então não houve este elemento constrangedor; o grupo tinha apenas suas vozes para entoar gritos de guerra, sem instrumentos comumente usados nas manifestações de rua. Mas as repercussões já têm resultado em baixas aos juízes Piombo e Benjamín Sal Llargues. Os dois são professores de Direito em faculdades argentinas, mas, depois do imbróglio, ambas já anunciaram o fim da contratação tanto de Piombo quanto de Llargues . Os dois também passarão por juízo político a pedido de duas organizações LGBT e já provocaram a manifestação de órgão das Nações Unidas, que pede a criação de um programa de capacitação contínuo para operadores do sistema judicial.


Os cartazes do ato foram, por fim, pregados no tradicional ponto turístico, o Obelisco. Foto: Erika Morhy

Particularmente, fiquei chocada e indignada com os argumentos usados pelos juízes, que revitimiza a criança, e mais ainda com o fato de saber que são professores de Direito, são duas criaturas que formam opinião e que podem estar consolidando entre os alunos formulações atrozes, capazes de alimentar um ciclo de violência.

O caso, lamentavelmente, reforça a necessidade de medidas drásticas, porque é apenas um dos vários delitos descritos na ficha corrida de ambos.



Falta, falta uma luz ao Tribunal.

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