domingo, 10 de setembro de 2006

Fotos para a história


Paris, Quarta-Feira, 12 de Setembro de 2001 Posted by Picasa

Neste dia que amanheceu ensolarado e frio, compramos o Le Figaro e fomos ao Beaubourg (também chamado de Centre George Pompidou) - o fantástico museu de arte moderna todo em estrutura metálica e vidro - cumprindo nossa vasta programação turística, ainda que assustados com os acontecimentos do dia anterior.
Na véspera, estávamos voltando de nosso passeio a Tour Eiffel e ao Hotel des Invalides, quando ao sentar em um café para almoçar por volta de 14: 45 h, ouvimos pelo rádio ambiente que um avião havia colidido com uma das torres do World Trade Center. A princípio, o impacto foi grande entre nós pois, há apenas 2 anos, havíamos visitado aquele importante landmark de Nova Iorque. Mal sabíamos o que ainda estava por acontecer.
Ainda estarrecidos e longe de visualizar os fatos que ainda estavam se desdobrando, continuamos nossa programação indo até uma coiffeur para aparar nossos cabelos, que já estavam um pouco além da conta. Para tanto, havíamos marcado hora com madame Brigitte, uma simpática e espevitada cabeleireira nas imediações de Montmartre, bairro onde moramos por cerca de 24 dias.
Ao chegar à cabeleireira, notamos algo de estranho nas feições e aparências das pessoas que lá estavam. Madame Brigitte estava visivelmente espantada, arregalava seu par de olhos azuis a cada frase que se ouvia no rádio ambiente do salão. (Sim. Nem no café e nem no cabeleireiro havia uma televisão). E foi lá que soubemos que um segundo avião havia colidido com a segunda torre. Assustados e com pouco domínio do francês, dependíamos de meu irmão que incrédulo, tentava nos traduzir o que estava acontecendo. Nesta altura, madame Brigitte se apressava-se em cortar o meu cabelo rapidamente de maneira a fazer o que todos pareciam querer fazer naquele momento: correr para casa e ligar a TV.
Saímos rapidamente da cabeleireira e corremos as escadarias da Rue du Mont Cenis acima em direção ao nosso apartamento.
Chegamos a tempo de assistir o imponderável: o desabamento da primeira torre. Ainda sem acreditar no que nossos olhos viam, alguns minutos depois assistimos o desabamento da segunda.
Angustiado, sem poder entender o francês rápido e angustiado do repórter da TV, eu perguntava:

- Meu irmão. Isso é um replay?
- Não, Carlos. É o desabamento da segunda torre! - respondia ele.

Silêncio absoluto na sala, todos com os olhos vivamente ligados naquelas imagens de horror. Olhos marejados.

- Não é possível! Isto não está acontecendo! É um filme! Um trailler de filme! - dizia eu.

No mesmo dia, já à noite, o governo francês deu início ao plano vigipirate que era um pacote de extensas medidas de segurança excepcional.
Tínhamos uma viagem marcada na quinta, dia 13 de setembro, para Londres via Eurotunel.
Reunião de emergência. O que faremos? Damos prosseguimento a nossa programação ou cancelamos tudo. Decisão: aguardemos por 24 h as providências das autoridades locais e depois decidimos.
E no dia seguinte, dia 12, Paris amanheceu sem as suas lixeiras estilizadas. No lugar delas, apenas sacos plásticos presos a estrutura metálica que antes as abrigava. O metrô e as ruas intensamente policiadas. A ordem era eliminar tudo aquilo que pudesse ocultar bombas terroristas. Mala desacompanhada no metrô era sinal de pânico e alarme total.
Mantivemos então a programação para o dia 12 ainda em Paris, onde faríamos um passeio de barco pelo charmoso Canal de Saint Martin. Nada feito. Ao chegarmos lá, após pagarmos o passeio, entrar no barco e esperar por cerca de 20 minutos, recebemos o dinheiro de volta com a notícia de cancelamento do passeio por razões de segurança.
Frustrados em nosso intuito, decidimos então antecipar o passeio ao Beaubourg, onde na fila de espera para entrar, tiramos esta foto com a manchete do Le Figaro: La Nouvelle Guerre. Até hoje, ainda guardo este exemplar do jornal em casa. Suas folhas já amareladas pelo tempo, ainda nos trazem a memória tudo o que aconteceu naqueles dias. Dias que mudaram o mundo.

Um comentário:

Carlos Barretto  disse...

Valeu, Val-André. Muito interessante sua sugestão que está anotada. Sou um leitor compulsivo e sempre vou atrás das sugestões literárias de amigos. Será minha próxima busca. Foi assim com "Facundo" de Domingo Sarmiento que comprei ainda em Buenos Aires, por sugestão de um anônimo neste blog. E não me arrependi.
Abs e Bom Domingo também.