domingo, 28 de julho de 2019

MOÇO DE JUÍZO, OBEDIENTE

Por Sabá de Abadia

 Menina ainda, Joana, de Jupira
era capaz de fazer indagação
de fazer qualquer ancestral
se revirar no caixão…

- Quantas palavras há de caber
aí nesta coisa que lhe atravessa a
garganta, este nó que lhe entorpece
os sentidos, este sentimento que lhe
corta em muitas tiras o próprio coração?

- Se palavras tropeçam na língua
não será porque chegaram de
longe estoporadas,  feridas
e famintas de claridão?

- Se é possível tirar, extrair é também
então possível enfiar palavras adentro
feito bálsamo, alento, bisturi ou fermento?

- Será que existe parteiro de palavras
engasgadas, dessas que azedam
e permanecem nas entranhas
purulentas, atoladas?

Joana se fez poeta e de verso em verso
no palco e no consultório faz com a
palavra afiada feito cutelo o que
pouca gente faz: partejo do
que é justo, bom e belo.

Conheci esta rara figura ao visitar
no sertão de Pernambuco um familiar.

Disse-me ela em linguagem direta:

“Eu cutuco, porém não machuco
dou berro, mas sussurro
arranco espinhos
e educo”.

Por carta, hoje, sou seu analisando
um paciente sempre presente.

Pois logo ela me escreveu dizendo
que não bota em ninguém cangalha
antolho ou exige atitude de carneiro!

Mas pediu-me postura, estado alerta,
falando-me delicada como ferro quente,
pronto a marcar, mergulhado em braseiro.

“Ou tu te abre, ó filho de flor de urtiga
ou te caço feito rês fujona e te dou coça!

Se desejas a cura abra tuas comportas
mesmo que haja só chorume
e tudo cheire à fossa…”

Ela escreve e fala sempre em versos
como se fosse um cantador de repente.

Eu, comportado, atendo a seus comandos
pois já me fiz um moço de juízo, obediente…

26jul2019

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