Por Sabá de Abadia
Menina ainda, Joana, de Jupira
era capaz de fazer indagação
de fazer qualquer ancestral
se revirar no caixão…
- Quantas palavras há de caber
aí nesta coisa que lhe atravessa a
garganta, este nó que lhe entorpece
os sentidos, este sentimento que lhe
corta em muitas tiras o próprio coração?
- Se palavras tropeçam na língua
não será porque chegaram de
longe estoporadas, feridas
e famintas de claridão?
- Se é possível tirar, extrair é também
então possível enfiar palavras adentro
feito bálsamo, alento, bisturi ou fermento?
- Será que existe parteiro de palavras
engasgadas, dessas que azedam
e permanecem nas entranhas
purulentas, atoladas?
Joana se fez poeta e de verso em verso
no palco e no consultório faz com a
palavra afiada feito cutelo o que
pouca gente faz: partejo do
que é justo, bom e belo.
Conheci esta rara figura ao visitar
no sertão de Pernambuco um familiar.
Disse-me ela em linguagem direta:
“Eu cutuco, porém não machuco
dou berro, mas sussurro
arranco espinhos
e educo”.
Por carta, hoje, sou seu analisando
um paciente sempre presente.
Pois logo ela me escreveu dizendo
que não bota em ninguém cangalha
antolho ou exige atitude de carneiro!
Mas pediu-me postura, estado alerta,
falando-me delicada como ferro quente,
pronto a marcar, mergulhado em braseiro.
“Ou tu te abre, ó filho de flor de urtiga
ou te caço feito rês fujona e te dou coça!
Se desejas a cura abra tuas comportas
mesmo que haja só chorume
e tudo cheire à fossa…”
Ela escreve e fala sempre em versos
como se fosse um cantador de repente.
Eu, comportado, atendo a seus comandos
pois já me fiz um moço de juízo, obediente…
26jul2019
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