segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Retrocesso

As eleições são um termômetro do grau de amadurecimento da democracia brasileira. Creio que nunca tivemos tamanha prova disto quanto neste pleito de 2008. Releva notar que a conclusão que se extrai, logo no início da campanha, é que ainda não somos, efetivamente, um Estado de Direito moderno, onde os diferentes discursos podem se confrontar em um ambiente de civilidade e tolerância.

Após os traficantes, no Rio de Janeiro, impedirem passeatas de campanha de candidatos a prefeito e vereador nos morros que controlam e de um candidato a vereador de Belém com ligações com a contravenção ser morto por motoqueiros em Mosqueiro, distrito da capital, neste final de semana o candidato do PMDB a prefeito de Rio Maria, Agemiro Gomes da Silva, foi executado quando cumprimentava um eleitor, no meio da rua.

Como contribuição recente da selvageria que ronda as eleições municipais deste ano pode-se citar, ainda, o atentado sofrido pelo jornalista Jeso Carneiro, na tapajônica Santarém.

As causas dos homicídios em Rio Maria e Mosqueiro e do incêndio em Santarém, obviamente, ainda não foram totalmente apuradas. Podem não ser crimes políticos. Mas o período e as circunstâncias dos eventos tornam forçoso concluir que a motivação dos atos criminosos é, sim, de caráter eleitoral.

A cada dia está mais difícil evocar diferenças e debater. A intolerância se intensificou, e muito, este ano. Oxalá tenha esgotado seu saco de maldades neste final de semana.

domingo, 10 de agosto de 2008

15 dias e algumas novidades

Foram apenas 15 ótimos dias. Mas ainda me recuperando de cerca de 10 horas de viagem e de mais um desagradável aborrecimento com a TAM, que fez a gentileza de deixar duas malas com roupas em outro continente, quase nu, aviso que volto ao batente a partir de agora. Estarei aos pouquinhos publicando algumas fotografias obtidas com uma nova câmera digital, minha principal aquisição naquelas bandas. Parte do sonho que pude realizar.
Publicarei também alguns "causos" para mostrar que vida de turista não é nada fácil.
Em um país com tantas diatribes, é um inegável privilégio do qual coro em comentar. Chega a parecer um escárnio. Mas vou fazê-lo livremente, na certeza de que os leitores saberão compreender a mera vontade de compartilhar experiências, felizmente, tão distintas e por isso mesmo, quem sabe, ao encontro dos interesses dos leitores, sempre livres para contribuir com suas próprias versões de suas andanças.
Neste tempo, conferindo as postagens no Flanar, fiquei feliz em vê-lo sólido, produtivo e com a presença de honrosos visitantes. José de Alencar, Bia, ACM e Antonio, em especial, contribuindo solidamente nas discussões além da galera anônima, não menos importante. É realmente um imenso prazer vê-los vez por outra por aqui.
Como blogosfera constituída (posters e comentaristas), estamos crescendo juntos. E isso é algo que não tem preço. Tecnológicamente viabilizamos um espaço sincero, franco, rico e muitas vezes denso de idéias. Algo que muito nos orgulha, certamente.
Preciso no entanto de algum tempo, para organizar as idéias, a vida profissional e também a casa antes de voltar ao velho ritmo. Mas vou voltando. Aos poucos, mas voltando.

Bom dia Vietnã!

PS: enquanto isso, adicionei o vídeo do You Tube a postagem Colisão Frontal de Oliver e atualizei nosso gráfico mensal "Ultimos 12 meses no Flanar". E ele mostra uma boa novidade: a tendência de aumento em nosso número mensal de visitantes, se mantém.

A Consciência em Poesia

Vitimado por complicações de cirurgia cardíaca, faleceu ontem, aos 66 anos, em Houstoun (Texas, EUA), o poeta palestino Mahmoud Darwish. O escritor destacou-se por fazer de sua poesia uma voz para o sofrimento de seu povo e um líbelo sobre a incompreensão de todas as guerras. Considerado patrimônio nacional, terá funeral com honras de chefe-de-estado. Como exemplo de sua arte, deixo com vocês um de seus últimos poemas, escrito na conjuntura da guerra entre Hamas e Fatah:

Tínhamos que cair de tal tremenda altura
para ver o sangue em nossas mãos
para compreender que não somos anjos
como pensávamos?

Tínhamos também que expor
ao mundo nossas falhas

para que nossa verdade não permanecesse virgem?

Como mentimos quando dissemos: somos a excepção!

E essa, agora?!

J. R. Duran, que por vários anos fotografou as mulheres mais lindas do país, nuas em pêlo, para revistas masculinas, agora teria sido contratado pelo marqueteiro Duda Mendonça para fotografar... aquele ser que conspurca a cadeira de prefeito de Belém.
Não posso ter certeza de que a notícia seja verdadeira mas, se for, espero que o nacional seja retratado nas melhores poses das playmates de outrora. Será a sua única oportunidade de fazer história. Além da já assentada história de prefeito-desastre.

sábado, 9 de agosto de 2008

Sympathy for The Devil*

A Coluna Painel da Folha de São Paulo, deste sábado, traz uma notícia preocupante para o futuro da Amazônia, por conta da simpatia estabelecida entre três personagens, com as bençãos de uma quarta que, à sombra, se constrói poderosa. Segundo ali se lê,
Blairo Maggi (PR-MT) e Ivo Cassol (PR-RO) à frente, saíram ontem de um fórum sobre desmatamento seguros de que pavimentaram caminho para fazer de Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos) um aliado no Planalto contra Carlos Minc (Meio Ambiente)
.
Para os Estados campeões em derrubada de floresta, Mangabeira pode ajudar a minar ações como a Operação Arco de Fogo, a criação -sem consulta ao grupo- de um fundo amazônico e a caça aos "bois piratas". Mais: poderia endossar um projeto para redesenhar a legislação e as fronteiras da área de reserva.
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*Sympathy for The Devil (Simpatia pelo Demônio) é música dos Rolling Stones. Mick Jagger escreveu a letra inspirado em Baudelaire, de quem é leitor cativo, explorando o estilo de Bob Dylan. O resultado foi uma das mais poderosas canções do rock and roll, com os famosos versos introdutórios:

Please allow me to introduce myself
I'm a man of wealthy and taste
I've been around for a long, long year
Stole a many a man's souls and faith

And I was 'round when Jesus Crist
Has his moment of doubt and pain
Made damn sure that Pilate
Washed his hand and sealed his fate

Pleased to meet you
Hope you guess my name
But what puzzling you
Is the nature of my game.
............................
............................

Rússia x Geórgia

Idosa, vítima de bombardeio russo, pede socorro entre os escombros de sua casa. A guerra entre Rússia e Geórgia está em curso. Calcula-se mais de 1500 mortos, só nas primeiras batalhas. Tudo motivado pelo domínio de uma província georgiana separatista. Escreve-se uma nova linha da barbárie humana.

Feliz aniversário, Cris Moreno

Querida Cris, lembras que, uma vez, escrevi em meu outro blog uma postagem chamada "Por onde andará Cris Moreno?", fazendo um muxoxo pelo desaparecimento de minha comentarista mais freqüente? E ela voltou. Hoje em dia, vem com menos mais freqüência, mas de vez em quando está lá e aqui, neste Flanar, que tanto deve a sua audiência (inclusive a indicação a outros leitores), ao seu carinho e ao seu incentivo.
Tudo isto me leva a deixar consignada, ostensivamente, uma mensagem de reconhecimento e de grande afeto, neste seu dia e para sempre. Abraços calorosos. Fica com Deus.


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Atualizado às 11:55hs.

Pedimos escusas ao Yúdice por aproveitar o seu post em homenagem à nossa querida leitora, a blogueira Cris Moreno. Quebramos uma regra implícita do blog com um justo propósito, cremos nós: testemunhar o incentivo e o carinho que Cris dedica ao Flanar, estando sempre presente na leitura e comentários.
Vida longa, Cris Moreno, com muita saúde, amor, sucesso, felicidade e amigos - reais e virtuais, que, nós sabemos, você cativa tão bem.

Francisco Rocha Junior
Oliver

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Ôpa! Ôpa! Ainda dá tempo pra mim?
Tô assinando embaixo também.

Carlos Barretto

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Eles passarão?

O maravilhoso Mário Quintana escreveu aquele poeminha que todo mundo conhece e volta e meia aparece transcrito em algum lugar:

Todos esses que aqui estão
Atravancando o meu caminho
Eles passarão
Eu, passarinho

Na inventividade e doçura do poeta, passarinho remete a algo bom. Todavia, na esteira da postagem "Ora vão tomar...", do nosso caro Oliver, ali embaixo, quero me referir a outra ave, que não me inspira nenhuma poesia.
Refiro-me a Jarbas Passarinho, acreano que adotou o Pará e fez carreira como militar e depois como político. Teve atuação importante em momentos tenebrosos da história deste país e, finda a ditadura, homem culto que é, dedicou-se a falar e a escrever sobre aqueles tempos, sempre querendo justificá-los. A começar, repudia o termo "ditadura". Para ele, jamais houve ditadura. Volta e meia, faz declarações públicas que me enchem de asco. Na mais recente, semana passada, verberou contra a possível punição de torturadores do passado (claro, também não houve tortura). E me saiu com esta: falou que o governo militar perdoou os criminosos da época (referindo-se à anistia), mas que esse perdão foi unilateral. Como declarado mais de uma vez, ele espera que a página infeliz de nossa história a que se referiu Chico Buarque na canção "Vai passar" seja simplesmente virada. Não é mais o caso de tocar nesses assuntos.
Fácil dizer isso se você não apanhou, levou choques elétricos, teve objetos enfiados em variados orífícios do corpo nem teve algum parente desaparecido ou assassinado. Para mim, um cinismo repugnante.
Jarbas Passarinho é uma espécie de ideólogo do regime militar pós-regime militar. Considero essa uma péssima biografia e uma desonrosa missão. Será que além do Oliver, provavelmente, terei alguma aceitação nesta opinião?

Lista suja - a polêmica

O blog Espaço Aberto, edição de hoje, divulga a opinião do Procurador de Justiça aposentado Luiz Ismaelino Valente sobre a decisão que o Supremo Tribunal Federal tomou esta semana, liberando a participação nas eleições dos candidatos inscritos na chamada lista suja da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB).

Para o doutor Ismaelino, "a presunção de inocência (...) acabou virando escudo para canalhas e ladrões". A opinião é forte, mas tem fundamento.

Particularmente, feitos os devidos esclarecimentos, acredito que a lista seja importante para que o eleitor possa conhecer melhor o perfil de quem demanda-lhe o voto. Espero que a discussão possa evoluir e resultar em um meio eficaz de informação ao eleitor.

Michael Douglas oriental

Poucas vezes li algo tão bizarro: um homem, em Hong Kong, tentou fazer sexo com um banco de praça (isso mesmo: um banco) e ficou entalado.

Alguns chamam isso de carência...

Impacto do Bafo

Já temos alguns números que avaliam o impacto da Lei Seca no trânsito:
  • Reduziram-se os acidentes de trânsito em praticamente todo o Brasil - só no Estado de São Paulo 15,3%.
  • A mortalidade por acidentes declinou: 8,8% no Estado de São Paulo e 63% na capital paulista.
  • Economia de R$ 4,5 milhões em um mês, considerando os 30 hospitais estaduais da Região Metropolitana de São Paulo, que tiveram o número de atendimentos reduzidos de 9.102 para 4.449.
Está claro que esses resultados são decorrentes do ânimo das autoridades em fazer a nova lei pegar. Enquanto isso, no Pará, nada vemos de bafômetros nas ruas. Deve ser por medo de perder votos.

Colateral

O Sindicato dos Trabalhadores no Comércio e Serviços em Geral de Hospedagem, Gastronomia, Alimentação Preparada e Bebida a Varejo de São Paulo (Sinthoresp) calcula que houve um aumento de 15% nas demissões em bares, restaurantes, lanchonetes e hotéis no mês de julho. Relacionam o fato com a escassez de clientes na noite paulista, provocada pelas blitzes policiais que procuram flagrar motoristas com bafo-de-onça. Entre músicos de barzinhos a reclamação é geral.

Inocência Perdida

A equipe olímpica de ciclismo norte-americana desembarcou em Pequim, usando nas fuças máscaras do personagem Hannibal Lecter, um criminoso sádico que se compraz em devorar suas vítimas. Segundo eles, assim procederam para se protegerem da poluição chinesa. Em décadas passadas, é possível que escolhessem se mascarar de Pato Donald ou de Mickey Mouse. A atitude permite uma boa análise de psicologia social.

Validade Vencida

No Rio de Janeiro, parece que virou costume profissionais de saúde comparecerem nas páginas policiais... Leio hoje, no O Globo:
Policiais federais da Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários prenderam ontem o chefe do laboratório do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), Eduardo Emery. O patologista, que é presidente regional da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica no Rio, é acusado de usar reagentes vencidos em exames de pacientes internados.
Emery trabalha há cerca de 25 anos no Into e, em 2005, já havia respondido a um inquérito administrativo movido pelo então diretor, Sérgio Côrtes, hoje secretário estadual de Saúde. Segundo um funcionário que pediu para não ser identificado, o processo teve como objetivo esclarecer um rombo de R$ 2 milhões no laboratório. O mesmo funcionário contou que kits de diversos testes imunológicos - como os de tireóide e de detecção dos vírus da Aids e de hepatites B e C - já chegavam ao laboratório com os prazos de validade vencidos ou prestes a vencer.
O uso de reagentes vencidos no laboratório do Into veio à tona em novembro de 2007, quando um funcionário da unidade denunciou a prática à direção do hospital. O mesmo profissional juntou documentos e gravou um vídeo dos reagentes.
As provas foram encaminhadas ao Ministério Público, que acolheu a denúncia.

Ora vão tomar...

... Banho, por escolha de melhor palavra! Porque, em nome das regras de boa educação, é a de melhor uso como reação à decisão dos generais brasileiros de investirem contra a decisão do governo de discutir a responsabilidade de quem, a soldo da ditadura, torturou, estuprou, violentou e assassinou cidadãos brasileiros, que enfrentavam com armas - ou não, o regime arbitrário que governou o Brasil de 1964-84.
Num oportunismo auto-ofensivo, generais aposentados, reunidos no Clube Militar do Rio de Janeiro, decidiram mover exércitos de papel contra a iniciativa do Ministro Tarso Genro de buscar a punição de alguns tarados, a maioria civis, que prestaram-se ao papel de torturadores e de coveiros dos opositores ao regime instalado a partir de 64. Reclamam os seniores insurgentes que a esquerda cometeu crimes tão graves e da parcialidade do atual governo em não reconhecê-los.
A grande arma desses suspeitos defensores da democracia é um artigo de um jornal latino-americano, que denuncia a inusual simpatia de algumas lideranças políticas brasileiras, autoridades no govenro Lula, pelas combalidas Forças Armadas Revolucionárias Colombianas, as FARC. Com base no publicado, o Clube Militar irá solicitar uma investigação que esclareça se as tais autoridades citadas na reportagem como simpáticas a causa dos marginais das FARC, ultrapassaram limites legais.
Compreendo, analisando os fatos suficientemente esclarecedores por si, que os autores de crimes deverão pagar por eles - duela a quem duela. Ou seja, quer seus praticantes alinhem-se à direita, quer à esquerda política. Especificamente quanto a esta, tratando da opção pela luta armada, é injustificável covardia estabelecer como alvo a população civil, registre-se. Nesse sentido, até onde se sabe, não aconteceram ações dos que pegaram em armas contra o golpe de 64, que tivessem como alvo militar a população civil. Ao contrário do que comprovam o atentado no Rio Centro e o caso Parasar, em que sobram digitais militares nos planos e execução desses episódios.
Cabe salientar que existem hoje testemunhos suficientes, publicados inclusive, que esclarecem que os líderes golpistas não só tinham conhecimento de torturas, como decidiram pela eliminação física de seus oponentes como parte da estratégia de consolidarem hegemonia política. Ora, se isto não constitui crime, então o crime não existe.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Inquietação

O Liberal de hoje, na coluna Repórter 70, se inquieta com o fato de Prefeitura de Anajás, na Ilha do Marajá, gastar 10 mil reais em combustível, num posto de Belém, especificamente para uso na campanha eleitoral, como teria sido informado por um funcionário do posto. Inquietação justa, sem dúvida. Porém tardia. Nos tempos do tucanato no poder, o que mais se via eram táxis com uma bolinha amarela colada na lataria, abastecendo por aí. O jornal em questão não se perturbou nadica de nada com isso. Nem o Ministério Público, aliás.

De graça

Desde que concorreu pela primeira vez à prefeitura desta combalida cidade, o nacional que ora ocupa a cadeira de prefeito explorou o tema do transporte gratuito. Dando vazão a seu discurso populista - que até hoje faz enorme sucesso nestas plagas, onde qualquer camiseta de malha ordinária vale um voto -, colocou uns ônibus velhos na rua, pintados de branco, com uma legenda em vermelho na lateral: "FUNCOSTA" - o nome da tal fundação assistencialista que, se é que existiu, não foi registrada perante a Promotoria de Justiça de Massas Falidas e Fundações (se não me falha a memória, é esse o nome).
Os veículos rodaram um tempo, mas logo sumiram. Quando o sujeito assumiu a prefeitura, curiosamente, o projeto que ele defendia como economicamente viável não foi adiante. Sequer a companhia municipal de transportes, formalmente criada há anos, saiu do papel. Mas eis que agora, em nova campanha eleitoral, ressurgiram os ônibus para o povão andar de graça. A diferença é que, agora, além da legenda "Passe livre" no vidro dianteiro, na lateral está pintado "Prefeitura de Belém - A serviço da comunidade". Até a logomarca feinha das mãos com uma árvore no meio está lá.



Também é curioso que tais ônibus estivessem escondidos num terreno em Marituba, talvez no aguardo da hora mais propícia para ganhar as ruas.
Se os fatos acima forem falsos, a mentira não é minha. Talvez seja do Diário do Pará de hoje e, talvez, seja invenção dos membros da Comissão de Fiscalização da Propaganda Eleitoral do TRE, de promotores de justiça e policiais federais, que na tarde de ontem apreenderam os seis ônibus seminovos.
Depois que desimpugnarem a candidatura do bonitão ficha suja, ou antes mesmo, espero que voltem a impugná-la, desta vez por abuso do poder político e econômico. Afinal, além da exploração do nome e da marca do governo, que deveria ser impessoal, chama a atenção o fato de que, quando os recursos advinham da tal FUNCOSTA, havia apenas dois ônibus velhos. Agora, são seis seminovos.
Com certeza, não se trata de um mistério de D. Milú - que Deus a tenha e nos proteja.
Realmente, o sujeito é uma graça.

A Boa Fumaça

Enquanto a chamada judicialização da saúde teimar em ignorar o conhecimento técnico em saúde pública, aferrando-se a interpretações sur la lettre, estaremos sob risco de erros motivados pelas melhores intenções. Não é outra minha impressão sobre a preocupação do promotor da infância e juventude de Belém, que requereu ao Tribunal de Justiça do Estado que determine ao Estado e Município da capital "a imediata construção de uma unidade hospitalar de referência materno-infantil", como remédio para a gravidade dos problemas verificados na Santa Casa.
A concepção da medida reclamada pela autoridade desconhece que o princípio da construção de unidades hospitalares centrais em sistemas como o SUS, quando em condições que a descentralização inexiste ou é incipiente ou frágil, antes é motor para que a falência de hoje se corporifique no amanhã. É como abríssemos um único guarda-chuva num momento de tempestade, frente a uma multidão exposta aos rigores do clima. Após um certo tempo, arruinado o abrigo pelas circunstâncias de escassez, todos estariam expostos de novo aos rigores da chuva.
Para a Boa fumaça do direito, melhor contribuiria o promotor, se, ao invés do que peticionou, solicitasse a abertura de leitos provisórios e contratados na capital, indissociados da estruturação de um sub-sistema regulado de atenção à gestante nas regionais de sáude do estado, compatível com as responsabilidades dos entes gestores - federal, estado e município.
Mas, na ótica de quem vê árvore e ignora solo e floresta a que ela pertence, a ziguizira seguirá com certeza para o rebote. Ao menos é assim que o cenário está se construindo.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Política Não É Polícia

O título é um trocadilho com duas palavras que distinguem a macropolítica da micropolítica em língua inglesa (Policy x Politic). Segundo informa o Diário do Pará , a governadora do Estado teria determinado a Secretaria de Segurança Pública que investigue óbitos de crianças no Hospital da Santa Casa, no período de 2002-2006. Segundo aquele noticioso, a medida tem por objetivo "formular um diagnóstico consistente a respeito das reais dificuldades daquele hospital e apresentar soluções para o caso".
Em primeiro lugar, considero contraproducente e arriscada tal decisão. Polícia é feita para investigar suspeições, crimes e criminosos, e não para avaliar problemas de gestão na saúde, que, qualquer um que milite nessa área, sabe que estão aquem e além dos muros da Santa Casa. Depois, enquanto unidade de saúde terciária (especialista em gestação e partos de alto risco) a Santa Casa não só tem uma direção para assserorar a chefe do Executivo paraense, como, por lei, uma comissão de óbitos, que bem pode produzir um relatório circunstanciado da situação para a governadora e para a secretária de estado da saúde, que, para doer as consciências anestiesiadas, lembramos que existe e deve corresponder as suas prerogativas.
Em segundo lugar, se, por razão oculta, o Palácio dos Despachos não quer recorrer à equipe de gestão do hospital, de nominata recente, nem a Secretaria Estadual de Saúde (SESPA), que use da alternativa de solicitar cooperação técnica ao Ministério da Saúde, por meio de ofício ao Secretário de Atenção à Saúde, ou a seus subordinados na direção do Departamento de Atenção Especializada do SUS, a que está subordinada a Coordenação Nacional de Atenção Hospitalar; ou em última instância, ao Dr. Temporão, Ministro de Estado da Saúde. Se nem isso satisfizer a temores e zelos, por escravos da incompreensão, antes de convocar os canas, resta -lhes o bom alvitre de contratar uma auditoria independente nas boas casas (de ciência & pesquisa) do ramo.
Por fim, essa conversa de "diagnóstico consistente" é como certo tipo de matéria indesejável no solado do sapato. É um chiclete que, no puxa-estica-não desgruda, cola noutra pergunta: Acaso produzem-se diagnósticos inconsistentes para a governadora? A depender da substância da resposta, também não será caso para chamar polícia por Diário Oficial, é caso sim de publicar uma justa demissão por bem do serviço público. Porque, todos sabemos, focinho de porco não é , nunca será tomada.

Morre Solzhenitsyn

Morreu ontem, por volta da meia-noite, o escritor russo Aleksandr Solzhenitsyn, aos 89 anos, dissidente do regime comunista que ganhou, em 1970, o prêmio Nobel de literatura.

O romance mais conhecido de Solzhenitsyn é "Arquipélago Gulag", um relato dos 8 anos que o autor passou confinado em um campo de trabalhos forçados destinado aos inimigos do governo de Stálin. De Solzhenitsyn, porém, o que me traz à lembrança é um romance anterior, "O Primeiro Círculo", que curiosamente relata um período de sua vida posterior ao de "Arquipélago".

Meu pai tinha em casa um exemplar do livro, das edições Classiques Penguin, que ele me passou na adolescência, quando eu já entenderia o que a obra descrevia. Lembro de ter achado o texto de Solzhenitsyn meio complicado e algo confuso. Pude perceber, no entanto, que a contribuição do escritor russo para desvendar as atrocidades que aconteciam em seu país eram muito mais importantes que seu estilo literário.

Vida longa à obra de Aleksandr Solzhenitsyn.

Resposta

Sobre o tema do post Blog encerrado, o ex-chefe da Casa Civil do governo Ana Júlia, Charles Alcântara, postou a seguinte resposta, na caixinha de comentários de sua última postagem:

Caros,
Recebo com serenidade as insinuações e especulações acerca do encerramento do meu blog, pois as causei.
Sustento todas as minhas opiniões veiculadas no blog e as manterei no mesmo espaço, para consulta.
Não barganhei a minha decisão de encerrar o blog, o que significa dizer que não procede a versão de que, em compensação, o partido comprometeu-se a debater com o governo as questões levantadas por mim.
Sinceramente, acho até improvável que este debate interno flua, dado o padrão de relacionamento entre governo e partido.
Não postulo – e não exercerei - qualquer comissionado neste governo.
Convenci-me - e é verdade que o companheiro João Batista influenciou – de que não poderia prosseguir pelas razões expostas na minha última postagem.
Não houve compensações, promessas, convites, ameaças...
Pelo contrário, apenas um fardo a carregar.

De minha parte, continuo com dúvidas. Acredito que muitos que acompanharam a brevíssima trajetória do blog de Alcântara pensam a mesma coisa. Mas ninguém poderá colocar a faca no pescoço de Charles para obrigá-lo a falar.

Ao final de sua curta vida cibernética, Charles agiu como Abelardo Barbosa: não veio para convencer, nem para explicar; somente para confundir.

sábado, 2 de agosto de 2008

A política

é arte que permite o exercício das baixas paixões.
(de um filósofo paraense anônimo)

Contrastes

Na rodovia em que meu caminhão se atira
num ímpeto veloz, a devorar distâncias,
em resfôlego mau de peito brusco em ira
todo ele a vibrar descomedidas ânsias.

Entre usinas febris, entre calmas estâncias,
eu vejo a ir e vir (sempre com a mesma mira:
o passar, o vencer, em quaisquer circunstâncias,
a concorrência atroz que o mesmo ar respira).

Vinte motores mais, poderosos, rugindo,
- terremotos em lei, sob regras, seguindo
num barulho de horror... E lembro, sem querer,

estradas do sertão, como serpentes mortas,
esticadas ao léu, bruscas, incertas, tortas,
onde os carros de bois à tarde vão gemer...

Antônio Tavernard - poeta paraense (1908-1936)

O Guri

Com doze anos de idade, já tinha prontuário policial com 35 entradas por roubo e assalto. O corpo foi encontrado ontem, nas matas de Cametá. História de anônimos esquecidos, e mais um exemplo do porquê o Pará merece a oportunidade de tornar-se uma terra de direitos.

Colisão Frontal



Há dias, penso em inserir aqui um vídeo do YouTube, como forma de alertar aos motoristas e passageiros sobre os riscos de dirigir automóveis, que, por mais seguros, têm limites de segurança. O vídeo foi produzido pela centenária organização automobilística alemã ADAC. O crash test avalia uma colisão frontal entre dois veículos modernos, equipados com arbagues, assentos para crianças e cintos de segurança.
As colisões frontais entre veículos são consideradas as mais perigosas, com mortalidade superior a 60%, dependendo de variáveis de velocidade e da interveniência de outros fatores. Observem o que acontece com a carroceria dos veículos e, principalmente, com os bonecos-passageiros na cabine. No teste, a velocidade de colisão foi aproximadamente de 50 km/h, limite bem inferior aos praticados por lei e fora da lei nas estradas brasileiras.

Vidas Sem Atendimento

Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA demonstra que o atendimento a acidentados nas estradas brasileiras é precário. O único estado do Norte incluído na pesquisa foi o Pará e o resultado é alarmante: 81% das vítimas de acidentes de trânsito nas estradas paraenses não receberam atendimento pré-hospitalar, com evidente repercussão sobre indicadores de mortalidade, de sequela relacionados aos acidentes e nos gastos do Sistema Único de Saúde.
Tal situação não deveria estar ocorrendo. Em 2003, o governo federal implantou a Política Nacional de Atenção ás Urgências e os Serviços de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU-192) nas capitais brasileiras e cidades com população superior à 100 habitantes. Trata-se de serviço medicalizado, com central inteligente de despacho de equipes, articulado a rede de atendimento de urgência estadual ou municipal. A PNAU prevê que os municípios com SAMU atuem de forma integrada com os vizinhos e realizem planos estratégicos com base em estudos territoriais de risco, incluindo as estradas.
Na execução do projeto, milhares de ambulâncias e centrais foram implantadas ou melhoradas. Recursos para qualificação de pessoal foram remetidos pelo governo federal a estados e municípios para se estruturarem. Não era, portanto, para termos essa estatística nas mãos. Frente a ela, no mínimo, conclui-se que esqueceram de que não basta investir; faz-se necessário avaliar, corrigir e supervisionar o desempenho da política no território. Nenhuma política federal surtirá efeito se estados e municípios não cumprirem o papel que lhes compete. O estudo completo do IPEA pode ser lido aqui.

Impugnado um "ficha suja"

Claro que todos sabemos qual será o desfecho judicial dessa história, mas eu não seria eu se não comemorasse: o sedizente prefeito de Belém teve a candidatura impugnada pela juíza Ezilda Pastana Mutran, da 98ª Zona Eleitoral de Belém, que desde agora mora no meu coração, acatando pedido formulado pelo Ministério Público Eleitoral, igualmente de parabéns pelo esforço de combater as candidaturas sujas, mesmo conhecendo o pensamento do TSE e do STF.
O motivo até as folhas mortas das mangueiras sabem: o recandidato responde a diversas ações por improbidade administrativa.
A campanha, claro, seguirá normalmente. Amanhã, as instâncias superiores mudaram isso. Mas só por hoje, como ensina a filosofia dos Alcoólicos Anônimos, só por hoje podemos comemorar.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Teste suas asas



Para testar as asas da imaginação, nada como um belo filme e uma bela trilha sonora.

Procurei no Youtube, para o post musical desta semana, a canção Try Your Wings, de Michael Barr e Dion McGregor, na voz da jazzsinger americana Blossom Dearie. Esperava deparar-me com um trecho do filme espanhol Minha Vida sem Mim, de cuja trilha sonora a música faz parte.

Pois para minha surpresa, achei esta pérola: alguém postou as cenas finais de Bonequinha de Luxo (Breakfest at Tiffany’s, 1961), clássico de Blake Edwards filmado a partir do livro homônimo de Truman Capote, trocando Moon River, da trilha original, pela voz miúda e delicada de Blossom Dearie.

Gostei da mudança. Espero que vocês curtam também. De todo modo, nada melhor que terminar a semana observando a graça e a beleza etérea de Audrey Hepburn.

Call centers regulamentados?

O governo federal expediu o Decreto n. 6.523, de 31/07/2008, que regulamentou o Código de Defesa do Consumidor quanto aos chamados serviços de atendimento ao consumidor (SAC), controlados hoje, em todas as prestadoras de serviços – notadamente os públicos operados por concessão –, por empresas interpostas, os chamados call centers.

Esta é uma típica medida que não vai dar nada. Já no seu artigo 2º, disse a que veio (ou a que não veio): o serviço de atendimento regulamentado pelo decreto federal é tão somente aquele prestado por telefone. Excluem-se então atendimentos pessoais (quando existentes, o que é cada vez mais raro) e via internet.

Aí está, portanto, aquela famosa brecha da lei, que levará anos para ser novamente regulamentada e que, enquanto isso, fará a festa das operadoras de serviços públicos concedidos. Experimente hoje, por exemplo, contactar o provedor próprio da Oi, que fornece acesso a conteúdo da web: você não terá contato via telefone, e não lhe explicarão que o contato é somente pela internet; você terá que adivinhar que o serviço é prestado somente desta forma. A seguir, experimente fazê-lo pela página da empresa na rede: você passará por todos os aborrecimentos típicos dos atendimentos por telefone, sem norma a regulamentá-los. Você estará, então, totalmente conflagrado na velha conhecida ausência de serviço e, o que é pior, aí estando ausente também a regulação estatal.

Foi o que aconteceu comigo nos dois últimos dias, por conta de um problema em minha conexão de internet. Não vou exasperar ninguém com o relato de situações que todos mundo já viveu, tais como esperas longas, repetição exaustiva de dados e informações a cada novo atendente a quem se é dirigido, tratamento desatencioso, quando não debochado. O que digo, somente, é que descobri um novo defeito nos SAC’s: os atendentes não conhecem os procedimentos da empresa para a qual trabalham. A cada novo atendente a quem me dirigiam, era dada uma solução diferente para o meu problema, sem que nenhuma delas, efetivamente, atendesse minha demanda. Ao final, uma santa alma me disse que o atendimento ao tipo de serviço que eu precisava era feito somente via internet. Conectei-me ao sítio da Oi e, após uma espera longa para atendimento on-line, quando finalmente alguém me respondeu, a conexão caiu em menos de um minuto. Como as agências reguladoras vão fiscalizar esta espécie de serviço?

Duvido que o decreto consiga resolver esta e outras situações. Mas espero sinceramente morder a minha língua, no futuro.

Blog encerrado

O blog do ex-chefe da Casa Civil no governo Ana Júlia, Charles Alcântara, encerrou suas atividades ontem.

Pela exposição pública de parte das entranhas do governo estadual e pela posição que nele ocupou, Charles precisa dar melhores explicações sobre o que disse, no post de despedida.

Afinal, deixou muito a imaginar, na mente de quem acompanha o desenrolar do governo petista. Teria atingido seu desiderato, como diz o Quinta Emenda? Se sim, que objetivo era esse?

Charles não pode furtar-se a dar estas explicações, principalmente ao atribuir o fim de seu relato eletrônico a conversas de pé de ouvido com uma autoridade partidária. Afinal, o que Charles contava, em seu blog, não era simplesmente o dia-a-dia do PT no Estado. Isto só interessa aos filiados e simpatizantes do partido, quando muito. Charles estava relatando como funcionavam as entranhas do governo e, em especial, as brigas intestinas que resultam, até agora, em uma administração sem atitude, de ações pífias e, exatamente por isso, com um índice de rejeição de 65% dos eleitores paraenses.

O governo não é o partido, Charles Alcântara. Apesar dos membros do Partido dos Trabalhadores demonstrarem, a cada vez mais, que acreditam ser a reedição tupiniquim da Nomenklatura russa.